Deslocamento dos “ falsos senhores”
Mais uma vez é Quaresma e mais uma vez ressoa em nós o forte apelo à
conversão. É um tempo forte de reconstrução de novas relações: consigo mesmo,
com os outros, com a criação e com o Criador.
Quaresma é um tempo para dar um mergulho em nossas raízes – Deus. É um tempo de
deixar-nos olhar por Deus para com ele aprendermos a olhar cada pessoa com os
olhos misericordiosos do Pai.
Orar é mergulhar e desejar ser visto por Ele até o mais profundo do nosso ser.
A verdadeira oração começará no dia em que descobrimos esse olhar de
amor, mas é necessário que Deus ilumine os olhos do nosso coração. Só assim
começará um deslocamento dos “falsos
senhores” que habitam o nosso coração, deixando espaço interior para a
presença e ação do “verdadeiro Senhor”.
Muitas vezes, queremos ser como Deus, e vigiamos receosos para ficarmos
com a nossa grandeza e prepotência. Quem experimenta Deus dentro de si, esse
não precisa agarrar-se a si mesmo. Vai aos poucos fazendo o êxodo de seu
centro, alargando os horizontes.
Quem é capaz de olhar o próprio interior, sensibiliza-se para olhar de
modo diferente a realidade que o cerca. Com o olhar podemos transformar uma
pessoa destruí-la ou reconstruí-la, aniquilá-la ou fazê-la renascer,
restituí-la a si mesma e ao futuro ou afundá-la no seu passado.
O lema da Campanha da Fraternidade deste ano é:
“É
para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5, 1 ).
A verdade
que nos liberta é a realidade divina.
Muitos fogem de si mesmos a vida inteira; isto, porque têm medo da
própria verdade, fizeram-se escravos da própria atividade. Somente nos
tornaremos livres se enfrentarmos a nossa própria verdade... Naturalmente,
isso é doloroso no início... é preciso de uma boa dose de fé e da graça de
Deus.
Reconhecer tantas coisas que reprimimos ao longo dos anos, onde
fechamos os olhos porque a realidade não é como gostaríamos. Somente poderemos
enfrentar a própria verdade sem medo, se acreditamos que tudo o que há em nós
está envolto no amor de Deus.
Um bom aprendizado é o “Lava-pés”... Em sua encarnação e em seu morrer
na Cruz, Jesus se inclina até o pó dessa terra, até os pés, até nosso ponto
vulnerável, até as áreas desprotegidas de nosso ser, para ali nos tocar e nos
purificar.
Na fé em Cristo Jesus a luz resplandecerá em minhas trevas, para que o
amor de Deus habite também nos abismos de meu coração.
No silêncio e na escuta, deixe
ecoar dentro de você as perguntas:
A partir de onde você olha? Como
olha? Qual é seu referencial? Em que e onde estão fixos seus olhos?
Só podemos “ ver a face de Deus” deixando-nos
iluminar pela luz dos seus olhos”. Na vossa
luz é que veremos a luz” (Sl 35, 10).
Peçamos a Jesus a graça de olhar as pessoas, fatos, acontecimentos,
coisas e o mundo, com o olhar de Deus Pai, um olhar terno e misericordioso.
Reelaborado
por: - Ir. Teresa Cristina
Potrick, ISJ